segunda-feira, abril 28, 2025
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Como o arquiteto Carlos Bratke ajudou a transformar a Berrini

Carlos Bratke, arquiteto e urbanista, é uma figura central na transformação do Brooklin em um dos polos mais importantes de São Paulo. Nascido em 20 de outubro de 1942, Bratke seguiu os passos de seu pai, Oswaldo Bratke, renomado arquiteto modernista brasileiro. Embora inicialmente sua vocação estivesse voltada para as artes plásticas, Carlos foi gradualmente direcionado para a arquitetura, onde desenvolveu um estilo próprio, marcado pela experimentação e pela ousadia. Seu nome se tornou sinônimo de grandes projetos, especialmente na Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, onde ergueu marcos que redesenharam a paisagem da cidade.

Desde cedo, Carlos Bratke conviveu com o universo arquitetônico, começando sua carreira ainda na juventude como desenhista no escritório de seu pai. Formado em Arquitetura pela Universidade Mackenzie em 1967, e pós-graduado em Planejamento e Evolução Urbana, em 1969, Bratke fazia parte de uma geração de arquitetos paulistas que desafiaram os dogmas da arquitetura moderna. Ele acreditava que o papel do arquiteto ia além da funcionalidade, defendendo que a arquitetura deveria ser experimental e inspiradora.

Sua trajetória na arquitetura começou a ganhar destaque na década de 1970, período em que ele passou a ser um dos protagonistas do desenvolvimento do Brooklin e da Berrini. Na época, essa região de São Paulo era uma área de várzeas pantanosas, conhecida como o “dreno do Brooklin”. Foi com a visão empreendedora de Bratke e de outros arquitetos, como seu irmão Roberto Bratke e seu primo Francisco Collet, que a área passou por uma notável transformação. Eles viram potencial onde outros enxergavam apenas dificuldades.

Um dos primeiros grandes projetos de Carlos Bratke na região foi o Edifício Bandeirantes (1977), na Avenida Luís Carlos Berrini. O edifício de doze andares destacou-se pelo uso inovador de torres periféricas que deixavam o salão principal livre de pilares, proporcionando flexibilidade no layout interno. As torres abrigavam áreas técnicas como circulação vertical, depósitos e sanitários, uma solução que Bratke repetiria em outros projetos.

Nos anos 1980, Carlos Bratke deu sequência à sua atuação na Berrini com o Edifício Morumbi (1980). Diferentemente do Bandeirantes, o Morumbi era composto por duas torres octogonais interligadas. Uma dessas torres acomodava um grande salão de escritórios, enquanto a outra continha o estacionamento. Mais uma vez, a flexibilidade de adaptação e a inovação estrutural foram marcas registradas do projeto.

Outro marco importante foi o Edifício Panambi (1982). Bratke começou a integrar as torres de forma mais centralizada ao edifício, mas sem perder a funcionalidade de plantas livres. Além disso, começou a explorar espaços verdes nas áreas internas, incorporando jardins à arquitetura, algo que seria recorrente em suas obras.

Em 1982, Bratke projetou o Edifício Oswaldo Bratke, nomeado em homenagem a seu pai. Este projeto foi uma síntese de tudo o que Carlos Bratke havia experimentado até então. As torres periféricas funcionavam como elementos estruturais, criando um volume que abrigava áreas comuns, como terraços e salas de exposição. O edifício também se destacava por sua fachada, onde Carlos explorava uma combinação de vidro reflexivo, concreto aparente e tijolos alaranjados.

A fase final de sua contribuição para a Berrini veio com o Edifício Plaza Centenário (1989-1995), também conhecido como “Robocop” devido ao seu estilo futurista. O arranha-céu, com suas imponentes torres cilíndricas revestidas de painéis de alumínio, é um dos maiores exemplos da arquitetura pós-moderna na cidade de São Paulo. Com 32 andares, o Plaza Centenário simboliza a consolidação da Berrini como um importante centro comercial e financeiro.

Outro edifício de destaque em sua carreira foi o Palace Berrini (1988), que Bratke projetou com uma fachada de vidro “emoldurada” por torres periféricas. Nesse projeto, ele experimentou uma solução estrutural em que as torres não eram apenas decorativas, mas também funcionais, abrigando áreas técnicas e de serviço. A simplicidade e a elegância das formas tornaram o Palace Berrini um dos favoritos entre os críticos.

Carlos Bratke encerrou sua carreira com o projeto do Edifício Jacarandá (2012-2015), considerado uma das obras mais inusitadas de sua trajetória. Diferente de seus projetos anteriores, o Jacarandá não utilizava torres periféricas, mas um núcleo central que “abraçava” o edifício, garantindo maior liberdade de adaptação de layouts. Com faixas em tons de verde e cinza, a fachada deste edifício representava uma evolução no trabalho de Bratke, evidenciando sua constante busca por inovação.

Além de sua atuação prática, Carlos Bratke também foi professor e vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), sempre defendendo a importância da experimentação na arquitetura. Sua trajetória foi marcada pela liberdade criativa e pela ausência de um estilo dominante, algo que ele acreditava ser essencial para que os arquitetos pudessem lidar com os desafios de cada projeto de maneira única.

Seu espírito empreendedor e investigativo foi herdado de influências como Oscar Niemeyer, que Bratke admirava por sua capacidade de inovar e “caminhar com os próprios pés”. Essa filosofia se refletiu em sua obra, na qual nunca se limitou a materiais ou formas pré-estabelecidas, sempre buscando transcender as limitações da arquitetura tradicional.

A Berrini, que hoje abriga um dos maiores centros financeiros da cidade, não seria o que é sem a visão e a ousadia de Carlos Bratke. Ele transformou o “nada” em um polo econômico pulsante, sendo responsável por mais de vinte edifícios na região, cada um com características e desafios únicos, mas todos marcados pela sua assinatura inconfundível.

Carlos Bratke faleceu em 2017, mas deixou um legado que será lembrado por muitas gerações de arquitetos e urbanistas. Sua habilidade de conjugar inovação e funcionalidade, sem perder a sensibilidade estética, permanece como uma das maiores contribuições para a arquitetura brasileira. Hoje, a Berrini é um reflexo da visão de Bratke, um lugar onde a forma, a função e a criatividade se encontram, transformando a paisagem urbana de São Paulo.

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